A insegurança, muitas vezes, não começa com uma escolha consciente. Ela nasce, silenciosamente, nos primeiros encontros que tivemos com o mundo, nos braços que nos acolheram — ou não —, nos olhares que nos perceberam — ou passaram por nós.
A forma como fomos recebidos em nossas relações mais primárias não apenas nos ensinou o que era afeto, mas também criou os moldes invisíveis do modo como passamos a nos ver, a nos sentir e a nos relacionar com o mundo.
Quando crescemos em ambientes onde não havia segurança emocional, onde nossas necessidades foram ignoradas, confundidas ou até mesmo punidas, aprendemos, ainda muito cedo, que não era seguro ser quem somos. E assim, fomos nos moldando para caber, para agradar, para não incomodar — tudo em troca de migalhas de pertencimento.
Essa insegurança, lá atrás, foi uma estratégia de sobrevivência. Mas hoje, ela pode se tornar um pano de fundo constante, afetando nossos relacionamentos, nossas decisões, nossa autoestima e até nossa forma de ocupar o próprio corpo.
Ela se manifesta no medo de não ser suficiente. Na dúvida constante sobre o que o outro pensa. Na tendência de se calar para evitar conflito. Na dificuldade em confiar. Na repetição de vínculos onde nos anulamos. Na dor de não se sentir digno de amor — mesmo que isso nunca seja dito em voz alta.
A insegurança, quando não é escutada, nos aprisiona em repetições. E essas repetições, muitas vezes, são reencenações silenciosas de traumas precoces. Estamos tentando, sem perceber, corrigir no presente o que não foi vivido com cuidado no passado.
Por isso, tratar a insegurança não é sobre “ganhar confiança” de fora para dentro. É um processo de restauração interna. É aprender, aos poucos, a construir dentro de si um espaço seguro. Um espaço onde o medo pode ser olhado, onde as vozes internas críticas podem ser reconhecidas por aquilo que são: formas antigas de proteção.
E esse processo de cura acontece no vínculo. Foi no vínculo que nos ferimos, e é no vínculo — seguro, presente, acolhedor — que podemos nos curar. Na relação terapêutica, vamos reaprender, com tempo e respeito, a confiar. A confiar no outro, sim, mas, sobretudo, a confiar em nós mesmos.
Porque só quando nos sentimos verdadeiramente seguros dentro, é que podemos experimentar segurança aqui fora.
Tratar a insegurança é tratar de si. É cuidar das raízes emocionais que sustentam tudo o que somos. Porque quando nos oferecemos um novo modo de estar conosco, abrimos espaço para novas formas de amar, de se vincular e de viver — com mais inteireza, mais liberdade e mais verdade.